A Educação Integral e a Criação do Conhecimento
Por Maria do Carmo Whitaker
INTRODUÇÃO
Estamos na era do conhecimento, da gestão do saber.
As enciclopédias, que supostamente abarcavam todo o conjunto do conhecimento humano já não conseguem abranger todo esse saber, que se amplia a cada momento, em uma velocidade vertiginosa.
O ser humano passou a transitar por espaços nunca antes imaginados.
A criatividade ganhou enorme impulso.
A inovação e o empreendedorismo se impuseram.
Estará essa nova realidade contribuindo para o desenvolvimento integral da pessoa humana, que é a grande protagonista do futuro que já chegou? Impõe-se que o ser humano, que no dizer de Pareyson, (1985:176)i é “único, irrepetível, inconfundível, incomparável e insubstituível”, alcance a sua plenitude, atinja sua perfeição.
Importa que o bem almejado por cada indivíduo, seja refletido na busca do bem comum da sociedade e se amplie no bem comum internacional. A globalização fez com que fossem ultrapassados os limites que separam os países e os povos.
Como assegurar a satisfação dos interesses legítimos dos povos e de cada cidadão, na busca do conhecimento? A cooperação e a solidariedade entre os povos podem, talvez, facilitar o encontro de um ponto de convergência e oferecer sustentabilidade na construção do conhecimento e na formação das pessoas.
A ESSÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO É A EDUCAÇÃO
A essência do desenvolvimento hoje é a educação. Mas a educação não é um produto que se ofereça, e se exponha em uma vitrine como faz um comerciante.
A educação não pode ser comercializada e muito menos banalizada, como querem alguns. Nem mesmo, pode o professor subir em um pedestal e passar a distribuir sabedoria, sem se preocupar com o que é esperado pelo aluno e pelo que é por ele assimilado.
Na construção do saber, na produção do conhecimento, o educador é aquele que aprende a ensinar e ensina a aprender.
A experiência e a vivência do aluno são as mais ricas fontes de aprendizagem e podem auxiliar na fixação dos alicerces do conhecimento.
O educador, entre outros misteres, disponibiliza domínios de conhecimento. Hoje em dia o conhecimento transita por diversos caminhos. Essa situação pode gerar angústia porque não se sabe qual a melhor fonte de informação, como extrair o conhecimento conectando essas fontes, a fim de se conseguir o melhor proveito possível. As informações trabalhadas e sistematizadas, unidas aos repertórios de cada um e às experiências pessoais podem gerar o conhecimento.
OS PILARES DA EDUCAÇÃO DEFINIDOS PELA UNESCO
Essa abordagem nos conduz ao Relatório elaborado para a UNESCO, pela Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. Esse documento (Delors, 2001: 90)ii parte do princípio de que a educação se processa ao longo da vida e se assenta sobre quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser.
Cada um desses pilares envolve um vasto conteúdo. Com efeito, aprender a conhecer importa em adquirir certo domínio de saber que abrange uma cultura geral e, ao mesmo tempo, ter as referências para aprofundar em determinados aspectos específicos quando se fizer necessário.
Para usar o termo empregado pela Comissão Internacional acima aludida é preciso “aprender a aprender”iii.
Isto certamente permitirá tirar proveito das possibilidades que se apresentem pela vida a fora. Aprender a fazer, requer além de qualificação profissional, capacitação que torne a pessoa apta a encarar numerosas ocorrências e a trabalhar em equipe.
Aprender a viver juntos permite crescer em entendimento entre as pessoas e constatar o quão dependente se está um do outro na vida em sociedade.
Respeito pela diversidade e projeção de metas e planos comuns será um constante aprendizado no estabelecimento de limites e no reconhecimento das capacidades das pessoas.
Aprender a ser, ou seja, construir a própria personalidade, encontrar a sua identidade, e assim, vislumbrando a sua razão de ser, a pessoa atingirá o fim, a meta de sua vida e alcançará sua plenitude.
A EDUCAÇÃO FAZ PARTE DA VIDA
A educação não se limita às crianças e aos adolescentes, que sem repertório, necessitam de proteção, auxilio, acúmulo de conhecimentos, para criarem aptidões, formarem suas convicções, desenvolverem-se, enfim, sob o ponto de vista físico, mental e espiritual.
Em um primeiro momento esse desenvolvimento se dará em total dependência dos adultos, para aos poucos ir-se liberando até ganhar autonomia. A educação faz parte da vida.
Surge, a concepção ampliada de educação que tenta fazer com que todos possam descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo, superar-se indo além de suas próprias expectativas.
A educação deve propiciar ao ser humano o alcance de sua plenitude, isto é, facilitar o seu aperfeiçoamento em todas as dimensões: humana, cultural, profissional, religiosa, artística, entre outras.
Sob esse aspecto a educação não é monopólio do governo exercido mediante as escolas e universidades, mas torna-se um imperativo para cada pessoa. Todo ser humano é um educador em potencial, é o grande protagonista da educação tanto no papel do educador como na posição do educando.
CONCLUSÃO
A experiência de existir é fascinante e trás incontáveis riquezas que engrandecem a dignidade de cada um. O simples fato de se relacionar com os demais pode ter uma conotação educativa, manifestada pelo próprio comportamento e conduta dos interlocutores.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” Eis o ensinamento de Paulo Freire (2003:47) iv Frankl (2003: 70)v fala em “educar para a responsabilidade”, o que supõe aprender a distinguir o que é importante do que não o é, o que é essencial daquilo que é supérfluo, “ o que tem sentido e o que não tem”.
Jacques Delors,(2001:15)vi, afirma que para enfrentar a pressão causada pela tensão entre a indispensável capacitação e a preocupação pela igualdade de oportunidades é preciso retomar o conceito de educação para conciliar a competência que estimula, a cooperação que fortalece e a solidariedade que une.